Páginas

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Seringais Amazônicos


Essa imagem me lembra de uma história que meu Pai João Clarindo, caboclo da região, contava acerca dos seringais da calha do Rio Madeira, mais especificamente nas proximidades do município de Humaitá – AM, segundo ele, havia por lá um seringal explorado por um Coronel de Barranco chamado Edmée Brasil. Em meados dos anos 40, segundo período áureo da Borracha, decorrente da invasão dos seringais da Malásia pelos Japoneses. Dito seringalista estava preocupado com a subseqüente queda na produção de borracha de seu seringal, ao passo que teve uma idéia fora de série: Deu ordem a seu capataz que reunisse todos os seringueiros para uma reunião na “Casa Grande”. No domingo subseqüente, estavam todos os seringueiros reunidos em frente à sua casa, ressalte-se que os caboclos gostavam dessas reuniões porque geralmente o Coronel mandava matar uns dois bois para dar de comer aos seus convidados, no entanto, nesse dia, o Coronel apenas apareceu brevemente na varanda para comunicar que no mês seguinte, o seu primo da capital – o próprio Governador Álvaro B. Maia – iria lhe mandar uma novidade tecnológica que iria revolucionar a vida no seringal. Dito isso, retirou-se e os caboclos voltaram para as suas casas, curiosos e com fome. No dia combinado, houve uma verdadeira romaria à sede do seringal, o porto ficou apinhado de canoas, até gente de outros seringais vieram para ver a tal novidade. Na varanda da casa, sobre uma mesa, eis já havia um objeto coberto por um pano, quando o Coronel apareceu e começou seu discurso: “Vocês sabem que os tempos de hoje são difíceis, estamos passando por uma guerra e o país precisa do esforço de cada um de vocês, mas eu sei dentre vos, existem aqueles que não compartilham com esse espírito de colaboração, por isso, mandei trazer de Manaus, a última palavra em tecnologia moderna, meus caros, apresento a vocês o “RÁDIO” – era um daqueles primeiros rádios, da marca SEMP – esse tal rádio, prosseguiu o Coronel, vai me dizer o nome do caboclo que não colhe direito o leite da seringa, que fica deitado até tarde, que não vai para o seringal quando ta chovendo – os caboclos, logicamente incrédulos, ficaram apenas observando, foi então que o Coronel falou: sendo assim, eu provo! ligou o rádio, sintonizou na Rádio Baré e disse: vou saber o que está acontecendo na nossa Capital, Manaus – eis que o rádio emitiu o seguinte enunciado: “estamos aqui em Manaus, capital do Amazonas, onde vai começar o jogo do Fast...” – os caboclos ficaram boquiabertos. Disse ainda o Coronel: agora vou saber o que está acontecendo na Capital do País, Rio de Janeiro – sintonizou então a Voz do Brasil: “A Voz do Brasil, diretamente do Rio de Janeiro, capital da República Brasileira...” novamente os caboclos ficaram pasmos.

Fim da reunião, os pobres caboclos voltaram para suas casas assustados, morrendo de mede. Depois desse episódio, foram 5 anos de Record sobre Record na produção de borracha daquele seringal, até que o Rádio se popularizou e o caboclo viu que o diabo não era tão feio.

Um comentário:

  1. Pobres coitados... Isso é uma prova clara e evidente de como a falta de instrução - educação - é algo extremamente perverso neste país. Passadas 7 décadas isso ainda acontece no Brasil meu caro Vanderley, só que desta vez na forma de homens de colarinhos brancos que através de políticas nefastas impedem o acesso da grande maioria ao conhecimento.

    ResponderExcluir