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segunda-feira, 19 de março de 2012

REGATÃO MILAGROSO


Uma das figuras mais carismáticas da calha do Rio Madeira foi o Regatão Juarez Horácio. Apadrinhava tudo quanto era curumim e cunhantã que encontrava por esses beiradões, diz-se que conseguia negociar até com indígenas dos quais não entendia uma palavra. Numa de suas viagens épicas, diga-se de passagem, a bordo do barco “Fafá de Belém”, estava a negociar estivas com um compadre seu do “Paraná dos Araras”, quando este lhe confessou que a sua esposa, já há três dias, sofria com as dores do parto. Oportunamente, o esperto regatão exclamou – não me diga compadre, três dias! O que o senhor tá precisando é de uma Nossa Senhora do Bom Parto - concluiu. O compadre então informou que já tinha a dita santa, mas o regatão não se deu por vencido – qual o tamanho dessa santa que o Senhor tem? – perguntou, - deste tamanho – Respondeu o compadre, gesticulando algo em torno de 20 centímetros, - Ah, então tá explicado – exprimiu o regatão – essa santa ai não faz milagres, a que faz é esta – mostrou-lhe então uma imagem de uns 45 centímetros e concluiu – esta sim, eu garanto ao senhor que faz. Feita a venda, o compadre retorna pra sua casa e antes mesmo do barco desatracar do porto, houve-se o barulho dos fogos. A bordo, o regatão, que também era louco por corrida de cavalos conclui: eu não disse, santa minha não faz FORFAIT.

sexta-feira, 16 de março de 2012

UMA MENTIRA BEM CONTADA PODE SALVAR SUA VIDA!


Diz-se que quando Deus não dá ao homem instrução, dar-lhe astúcia. E foi assim, com muito jogo de cintura que Severino, pobre seringueiro, escapou fedendo da fúria do coronel perverso. Essa história ou causo, como queiram chamar, aconteceu nos idos dos anos 50, num seringal do lago do Puruzinho, no Rio Madeira, comandado pelo terrível “Coronel de Barranco” Serafim Botelho. Sua filha Luiza, linda moça, completara 16 anos e o Coronel deu a ela um anel de brilhante que havia pertencido a sua avó, para servir-lhe de DOTE quando se casasse com um Doutor – obviamente. Como naquela época não havia ladrão (na acepção jurídica do termo, posto que, era comum os maridos “roubarem” as esposas), a menina pôs o anel no dedo, chamou o Severino – Remador da família, e foi passear de canoa no lago. Sentindo a brisa matinal em sei rosto e a canoa a singrar suavemente pelas águas espelhadas do lago, a menina achou de por a mão na água e senti-la escoando por entre os dedos, foi então que percebeu que algo mais havia escoado de seus dedos, ou seja, perdera o precioso anel da sua bisavó. Temendo levar uma surra do coronel, a menina chegou a Casa Grande e contou-lhe a seguinte história: Estava eu passeando de canoa com o meu anel Pai, quando aquele patife do Severino, já de olho nele, me forçou a entregá-lo se não ele alagava a canoa no meio do lago. O Coronel, possesso, mandou seus capangas atrás do pobre Severino que não sabia de nada. Não demorou muito para o acharem pescando na beira do lago. Prenderam-no e o lavaram até o Coronel, que ordenou aos jagunços que o amarrassem ao pelourinho e o revistassem, pra surpresa da menina, acharam o dito anel no bolso do desgraçado. Nisso, já se formava uma grande multidão em volta, enquanto isso, o coitado do Severino, como calado estava, calado ficou. Apenas se limitou a ouvir os comentários se faziam a sua volta - Olha, diziam eles, foi ele que roubou o anel da menina - e coisa e tal. Neste momento o Coronel estava decidindo entre 100 chibatadas, uma tira de couro das costas, amputação da mão, etc. Ao passo que, finalmente, o Severino se manifestou – Esperem um pouco - disse firmemente - eu tenho o direito de falar, de contar a minha versão da história – Nesse instante houve um grande murmúrio entre a multidão, quando o Coronel interveio – Silêncio! - brandiu em alto e bom som - e o que você teria pra dizer em sua defesa, infeliz? – Em primeiro lugar - prosseguiu Severino - EU NÃO ROUBEI ESSE ANEL. FOI ELA QUE ME DEU! - então olhou em direção a filha do coronel e continuou – levei realmente a senhorita para passear de canoa nessa manhã, quando ela me pediu que lhe desse um beijo, eu disse que não porque respeito muito o seu pai, foi ai que ela fez a seguinte proposta, já que meus encantos não o seduzem, talvez isso o interesse, foi aí que ela tirou o anel do dedo e me deu, e eu como sou uma pessoa humilde, aceitei – Nesse instante, todos os olhos se voltam para o Coronel e a moça. O Coronel simplesmente mandou desamarrar o cabra e amarrar a menina no lugar dele, nisso, quando tiveram próximos a moça e Severino, esta lhe inquiriu – A sua mentira foi maior do que a minha, mas onde está afinal, a verdade? – ao passo que Severino lhe respondeu – A verdade sinhá, é que eu encontrei o anel na barriga de um peixe que pesquei lá no lago, mas quem vai acreditar numa história dessas?

Como se vê, a história é antiga, mas a moral e bem atual: o povo quer mais é história de sexo e violência. Um abraço.

segunda-feira, 12 de março de 2012

PEREGRINAÇÃO, FÉ E AMOR NO RIO MADEIRA – OS MILAGRES DA “TERRA SANTA”.


Em meados dos anos 50, numa localidade situada acima do município de Borba-AM, no lago do Acará, apareceu um sujeito simples, como todo Caboclo trabalhador do Rio Madeira, por nome de Amâncio, com uma história surpreendente na época, disse ter avistado, em cima do tronco de uma árvore situada à beira de um aningal (pântano), NOSSA SENHORA em pessoa. A história rapidamente se espalhou pelo rio e adjacências como um rastilho de pólvora. Logo, dezenas, centenas e até milhares de pessoas começaram a fazer peregrinação ao local que ficou conhecido como TERRA SANTA.

Diz-se que até caboclos de Porto Velho, distante mais de 300 km, a remo, chegavam ao local com as mãos sangrando, toda enfaixada de tanto remar para pagarem promessas à Nossa Senhora. Fizeram até um caminho para acessar o local diretamente pelo rio sem adentrar o lago, tanta era a quantidade de pessoas que transitavam por ele, que logo ser formou um imenso lamaçal.

Havia, pelo caminho, três CRUZEIROS para os devotos pagarem suas promessas. Diz-se que, quem tinha muito pecado, já caía de joelhos no primeiro Cruzeiro e não conseguia prosseguir a caminhada, contou-me certo dia uma das figuras mais emblemáticas do Rio Madeira chamado JUAREZ HORÁCIO, regatão conhecido na região e, na ocasião do suposto milagre, tesoureiro do lugar.

Vendia-se de tudo lá: lasca da árvore onde Nossa Senhora apareceu, terra do entorno da árvore, enfim, o negócio tornou-se muito lucrativo para quem soube aproveitar. O pobre Amâncio, coitado, de nada aproveitou o sucesso. Mais tarde, soube-se que ele havia inventado a história para chamar a atenção da cunhada, por quem era apaixonado. Terminou seus dias como estivador no porto de Borba.

Como se vê, o amor e a fé não se guiam pelos olhos dos céticos, mas pelos corações dos desesperados. Um abraço amigos do Rio Madeira.

sexta-feira, 2 de março de 2012


Conversando outro dia com uma Juíza Eleitoral do TRE, esta me contou um "causo" fora de série. Segundo a Magistrada, em uma época anterior à exigência legal da alfabetização do candidato como condição de elegibilidade, reza a lenda que um prefeito do interior do Amazonas (não direi qual) veio a Manaus com intuito de comprar à crédito na loja BEMOL. Uma vendedora da loja vez o seu cadastro e pediu-lhe que aguardasse umas 3 horas para a confirmação da aprovação do crédito. O Prefeito saiu para ver outras lojas e, após às 3 horas, retornou à BEMOL. Nem bem entrou na loja, a vendedora prontamente lhe informou que a abertura do seu crédito não seria possível porque o seu nome estava no SPC, ao passo que o Prefeito prontamente emendou: "PUTA QUE PARIU, ISSO É COISA DO CUMPADRE VIVALDO. EU FALEI PRA ELE QUE NÃO QUERIA MUDAR DE PARTIDO!