Blog do Clarindo
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sexta-feira, 29 de junho de 2012
sábado, 7 de abril de 2012
REVOLTA NO RIO MATAURÁ - 1932
Essa historia foi contada ao meu Pai, João Clarindo, quando morávamos numa localidade por nome de VENCEDOR, localizado na margem esquerda do Rio Madeira, em frente ao Paraná do Uruá, no município de Manicoré - AM, por um dos participantes da revolta chamado de Zé Pavão, segundo ele, nesta localidade vivia o clã dos Lindoso, exceto por um dos integrantes dessa grande família chamado Batué Lindoso, que tinha uma grande área de terra no Rio Marepáua.
Tudo começou quando o Coronel de Barranco Carlos Lindoso, em meados da década de 30, saindo do VENCEDOR, entrou no Rio Mataurá, hoje pertencente ao município de Novo Aripuanã - AM, e lá se estabeleceu, montando um grande Armazém de estivas para comprar a produção dos pequenos proprietários de terras que ali já exploravam a extração de borracha e castanha.
Naquela época, não havia linha de barco recreio no Rio Madeira e, no entanto, os proprietários de terras tinham que vir uma vez por ano à Manaus para recolher o imposto sobre a propriedade rural, junto à coletoria de impostos da União. Baixando o Rio Madeira, de Manicoré à Manaus, levava mais de uma semana para um batelão, impulsionado por oito remadores, percorrer esse trajeto.
Foi então que o Coronel Carlos Lindoso, em 1932, por ocasião de uma dessas viagens que faria à Capital, se comprometeu para com seus vizinhos e fregueses, levar os seus respectivos títulos de propriedade para o recolhimento do tributo.
Quando retornou de viagem, não se sabe como vez para conseguir, disse aos pequenos proprietários que lhe haviam cedido os documentos, que todas aquelas terras agora lhe pertenciam e que todos iriam ser seus empregados.
Revoltados, mas com poucas armas de fogo para deflagrar um conflito direto, os moradores se reuniram e decidiram mandar um deles a Manaus para comprar armas para a revolução. Acontece que o sujeito se perdeu, passou pela foz do Madeira e foi parar em Itacoatiara, levou cerca de duas semanas só baixando o rio. Seus correligionários já impacientes com a demora decidiram agir por conta própria.
O Coronel foi avisado que os caboclos estavam se preparando para uma revolta, mas não ligou à mínima, desdenhava inclusive – caboclo não tem dinheiro nem pra comprar munição que dirá arma de fogo – dizia ele, que morava com um filho de 15 anos no próprio armazém, mas mantinha uma casa com mulher e filhos numa área um pouco mais afastada do armazém.
Dizia o finado Zé Pavão, que o Coronel havia construído um túnel de fuga que ligava o armazém a uma mata próxima, cujo alçapão ficava bem debaixo do seu mosqueteiro.
À boca-da-noite, três homens foram até o armazém, bateram na porta e o garoto atendeu, disseram-lhe que queriam comprar velas para um velório, então um deles disse – Cadê seu pai? – o garoto apontou para o mosqueteiro e disse – está dormindo – nisso, um dos caboclos viu um canto do mosqueteiro se mexer e calculou que ali estava a cabeça do Coronel, sacou da espingarda e atirou. O tiro acertou o pé do Coronel que prontamente entrou no alçapão e sumiu. Os caboclos revistaram o armazém, mas não o encontraram, então decidiram atear fogo no armazém depois de saquearem toda cachaça, armas e munições e, felizmente, pouparam a vida do filho do Coronel, mas foram até sua casa, mataram a mulher e os outros filhos do Coronel.
Com a fumaça, o Coronel teve que sair do túnel onde estava escondido. Um caboclo o avistou saindo de um buraco próximo a mata e deu o alarme, nisso já havia uma grande multidão em volta do armazém que rapidamente o cercaram. Os caboclos, um por um, com facão em punho, foram até ele e contaram-lhe um pedaço do corpo dizendo – se lembra daquela terra que vosmice me tomou lá no lugar tal? – e cortava um braço ou uma perna até que não sobrou quase nada do Coronel.
O coronel tinha um capataz muito leal que não estava com ele nesse dia, mas assim que chegou de canoa e ia subindo o barranco, foi parado por três caboclos que lhe apontaram armas e disseram – passa pro nosso lado ou morre – ao passo que o leal empregado disse – eu prefiro morrer a passar pro lado de vocês – então morra! Disse um deles e atirou, mas a bala foi desviada pelo remo que carregava. Já o segundo tiro acertou-lhe o braço e terceiro foi fatal, bem no peito.
Sabendo que ia haver represarias, pois a família Lindoso era numerosa, os caboclos cavaram trincheiras e se prepararam pro ataque. Um dos empregados do Coronel conseguiu fugir e avisar o seu irmão que morava no Rio Marepáua, Batué Lindoso. Quando soube, armou 15 homens e partiu pra vingar a morte do seu irmão.
Antes de entrar no Rio Mataurá, Batué Lindoso fez uma parada na vila de Tapinima, onde havia um engenho de fabricação de cachaça do Senhor Luís Correa, para comprar cachaça pros seus homens. Lá foi demolido do seu intento pelo próprio Luiz Correa que lhe disse – não vá que você vai morrer! Existem lá mais de 150 homens armados com rifle winchester “papo amarelo” e espingardas.
Então pediram auxílio ao governo que enviou uma canhoneira de ferro da marinha para região, assim que ela entrou no Rio Mataurá, um caboclo conseguiu perfurar o casco da embarcação com uma bala calibre 44, carregada com ponta de lima, quase que ela afunda. Depois de taparem o buraco, ela finalmente chegou ao local da rebelião. Olhando pelo binóculo, o comandante avistou os caboclos entrincheirados no porto e então deu ordem para que desferissem uma rajada de metralhadora e tiros de morteiro no entorno da margem do rio, foi o suficiente para os caboclos abandonarem suas posições e sumirem mata adentro.
Nesse dia, os soldados da marinha não conseguiram capturar um caboclo sequer, segundo o finado Zé Pavão, um caboclo que estava fugindo em meio ao tiroteio infernal, teve a barra da sua calça agarrada por aquele cipó cheio de gancho chamado “unha de gato” e veio ao chão, nisso ele gritou: “pelo amor de deus seu soldado, não me mate!”.
Mais tarde, conseguiram prender apenas umas seis pessoas pelo assassinato do Coronel, mas a maioria fugiu atravessando o Rio Madeira, passando pelo Vencedor, Castanhal e Cachoeirinha, inclusive o finado Zé Pavão.
Quando fomos morar no Vencedor, a convite do Cesar Lindoso, grande profissional agrônomo daquela região e muitas vezes Secretário da Agricultura do Município de Novo Aripuanã, filho de Cariolanda Lindoso e tio do Coronel assassinado, os caboclos que moravam na margem direita do Rio Madeira tinham o maior receio de atravessar o rio, com medo de represarias. Tinha época que chegavam a passar fome porque a melhor área de pesca ficava justamente do outro lado do rio, mas era só cisma de caboclo, porque o Cesar mesmo não ligava pra essas coisas.
Espero que isto tenha contribuído para resgatar um pouco da história dos nossos seringais. Considerando que o sentimento de justiça é inerente à natureza humana, não importa a condição social do indivíduo. Quando lhe subtraímos algum direito, há a chamada “revolta do injustiçado”, em nome da qual se pode cometer alguns atos de barbárie, como neste caso.
segunda-feira, 19 de março de 2012
REGATÃO MILAGROSO
Uma das figuras mais carismáticas da calha do Rio Madeira foi o Regatão Juarez Horácio. Apadrinhava tudo quanto era curumim e cunhantã que encontrava por esses beiradões, diz-se que conseguia negociar até com indígenas dos quais não entendia uma palavra. Numa de suas viagens épicas, diga-se de passagem, a bordo do barco “Fafá de Belém”, estava a negociar estivas com um compadre seu do “Paraná dos Araras”, quando este lhe confessou que a sua esposa, já há três dias, sofria com as dores do parto. Oportunamente, o esperto regatão exclamou – não me diga compadre, três dias! O que o senhor tá precisando é de uma Nossa Senhora do Bom Parto - concluiu. O compadre então informou que já tinha a dita santa, mas o regatão não se deu por vencido – qual o tamanho dessa santa que o Senhor tem? – perguntou, - deste tamanho – Respondeu o compadre, gesticulando algo em torno de 20 centímetros, - Ah, então tá explicado – exprimiu o regatão – essa santa ai não faz milagres, a que faz é esta – mostrou-lhe então uma imagem de uns 45 centímetros e concluiu – esta sim, eu garanto ao senhor que faz. Feita a venda, o compadre retorna pra sua casa e antes mesmo do barco desatracar do porto, houve-se o barulho dos fogos. A bordo, o regatão, que também era louco por corrida de cavalos conclui: eu não disse, santa minha não faz FORFAIT.
sexta-feira, 16 de março de 2012
UMA MENTIRA BEM CONTADA PODE SALVAR SUA VIDA!
Diz-se que quando Deus não dá ao homem instrução, dar-lhe astúcia. E foi assim, com muito jogo de cintura que Severino, pobre seringueiro, escapou fedendo da fúria do coronel perverso. Essa história ou causo, como queiram chamar, aconteceu nos idos dos anos 50, num seringal do lago do Puruzinho, no Rio Madeira, comandado pelo terrível “Coronel de Barranco” Serafim Botelho. Sua filha Luiza, linda moça, completara 16 anos e o Coronel deu a ela um anel de brilhante que havia pertencido a sua avó, para servir-lhe de DOTE quando se casasse com um Doutor – obviamente. Como naquela época não havia ladrão (na acepção jurídica do termo, posto que, era comum os maridos “roubarem” as esposas), a menina pôs o anel no dedo, chamou o Severino – Remador da família, e foi passear de canoa no lago. Sentindo a brisa matinal em sei rosto e a canoa a singrar suavemente pelas águas espelhadas do lago, a menina achou de por a mão na água e senti-la escoando por entre os dedos, foi então que percebeu que algo mais havia escoado de seus dedos, ou seja, perdera o precioso anel da sua bisavó. Temendo levar uma surra do coronel, a menina chegou a Casa Grande e contou-lhe a seguinte história: Estava eu passeando de canoa com o meu anel Pai, quando aquele patife do Severino, já de olho nele, me forçou a entregá-lo se não ele alagava a canoa no meio do lago. O Coronel, possesso, mandou seus capangas atrás do pobre Severino que não sabia de nada. Não demorou muito para o acharem pescando na beira do lago. Prenderam-no e o lavaram até o Coronel, que ordenou aos jagunços que o amarrassem ao pelourinho e o revistassem, pra surpresa da menina, acharam o dito anel no bolso do desgraçado. Nisso, já se formava uma grande multidão em volta, enquanto isso, o coitado do Severino, como calado estava, calado ficou. Apenas se limitou a ouvir os comentários se faziam a sua volta - Olha, diziam eles, foi ele que roubou o anel da menina - e coisa e tal. Neste momento o Coronel estava decidindo entre 100 chibatadas, uma tira de couro das costas, amputação da mão, etc. Ao passo que, finalmente, o Severino se manifestou – Esperem um pouco - disse firmemente - eu tenho o direito de falar, de contar a minha versão da história – Nesse instante houve um grande murmúrio entre a multidão, quando o Coronel interveio – Silêncio! - brandiu em alto e bom som - e o que você teria pra dizer em sua defesa, infeliz? – Em primeiro lugar - prosseguiu Severino - EU NÃO ROUBEI ESSE ANEL. FOI ELA QUE ME DEU! - então olhou em direção a filha do coronel e continuou – levei realmente a senhorita para passear de canoa nessa manhã, quando ela me pediu que lhe desse um beijo, eu disse que não porque respeito muito o seu pai, foi ai que ela fez a seguinte proposta, já que meus encantos não o seduzem, talvez isso o interesse, foi aí que ela tirou o anel do dedo e me deu, e eu como sou uma pessoa humilde, aceitei – Nesse instante, todos os olhos se voltam para o Coronel e a moça. O Coronel simplesmente mandou desamarrar o cabra e amarrar a menina no lugar dele, nisso, quando tiveram próximos a moça e Severino, esta lhe inquiriu – A sua mentira foi maior do que a minha, mas onde está afinal, a verdade? – ao passo que Severino lhe respondeu – A verdade sinhá, é que eu encontrei o anel na barriga de um peixe que pesquei lá no lago, mas quem vai acreditar numa história dessas?
Como se vê, a história é antiga, mas a moral e bem atual: o povo quer mais é história de sexo e violência. Um abraço.
segunda-feira, 12 de março de 2012
PEREGRINAÇÃO, FÉ E AMOR NO RIO MADEIRA – OS MILAGRES DA “TERRA SANTA”.
Em meados dos anos 50, numa localidade situada acima do município de Borba-AM, no lago do Acará, apareceu um sujeito simples, como todo Caboclo trabalhador do Rio Madeira, por nome de Amâncio, com uma história surpreendente na época, disse ter avistado, em cima do tronco de uma árvore situada à beira de um aningal (pântano), NOSSA SENHORA em pessoa. A história rapidamente se espalhou pelo rio e adjacências como um rastilho de pólvora. Logo, dezenas, centenas e até milhares de pessoas começaram a fazer peregrinação ao local que ficou conhecido como TERRA SANTA.
Diz-se que até caboclos de Porto Velho, distante mais de 300 km, a remo, chegavam ao local com as mãos sangrando, toda enfaixada de tanto remar para pagarem promessas à Nossa Senhora. Fizeram até um caminho para acessar o local diretamente pelo rio sem adentrar o lago, tanta era a quantidade de pessoas que transitavam por ele, que logo ser formou um imenso lamaçal.
Havia, pelo caminho, três CRUZEIROS para os devotos pagarem suas promessas. Diz-se que, quem tinha muito pecado, já caía de joelhos no primeiro Cruzeiro e não conseguia prosseguir a caminhada, contou-me certo dia uma das figuras mais emblemáticas do Rio Madeira chamado JUAREZ HORÁCIO, regatão conhecido na região e, na ocasião do suposto milagre, tesoureiro do lugar.
Vendia-se de tudo lá: lasca da árvore onde Nossa Senhora apareceu, terra do entorno da árvore, enfim, o negócio tornou-se muito lucrativo para quem soube aproveitar. O pobre Amâncio, coitado, de nada aproveitou o sucesso. Mais tarde, soube-se que ele havia inventado a história para chamar a atenção da cunhada, por quem era apaixonado. Terminou seus dias como estivador no porto de Borba.
Como se vê, o amor e a fé não se guiam pelos olhos dos céticos, mas pelos corações dos desesperados. Um abraço amigos do Rio Madeira.
sexta-feira, 2 de março de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
O POVO
O Povo – Eça de Queiroz
Eça de Queiroz